quinta-feira, 30 de setembro de 2010

sinto,

Te sinto quando perco um riso. Só sei notar o que foi invadido. Logo eu, que sou sempre tão cheia de corredores vazios, me vejo rodeada de excessos que nem sei traduzir. Me torno pequena diante desse sentimento, me olho desconhecendo tudo que resta, fico a inspecionar essas horas que correm sem freios, tempos multiplicados em ausências. Não sei pra qual caminho olho, não sei por onde você passeia enquanto te vejo se perder de mim. Não consigo ver a singularidade de quem se importa nem do querer confundido. Preciso doer, preciso fazer sentir, ferir nessas horas que verbalizo, preciso ouvir a vida gritar comigo em vozes maiúsculas, reclamando das faltas tuas, que sobram em vãos da minha garganta angustiada de nó. Quero te ver nos dias alegres. Não no amanhecer sem cor, nos lençóis molhados, nas gavetas de um passado que não se foi, que dorme e acorda comigo. Quando me enxergo agora, sinto os teus arrepios e os meus medos deslizando nesse corpo. Sinto cada vez mais as estradas em desencontros que eu não posso evitar. Me sujeito as vontades de um destino que não quer que isso faça soma, mas aviso que sou dura na queda, porque não é fácil entregar os pontos. Nesse momento fico te tocando no escuro, imaginando palavras e sonhos, chutando pro lado as dores. Desaprendendo novamente. Me rendendo. Que é pra ver se te observo mais. Pra ver se torno próximo.

Ana Morais

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

consome o tempo confuso.


Existem horas que seguro a voz pra não sair por aí gritando, coloco a máscara do sorriso quando na verdade quero passar o dia inteiro trancada, em meio a choros, solidão, ausência de voz, palavras, perguntas. Aprendo com as dores, descubro, amadureço, fico incompleta mas tão plena em alguns sentidos. De todas as companhias, a minha sempre será a que mais me satisfaz. Ainda não sei quantas vezes vou ter que cobrir meu querer.

Ana Morais

sábado, 11 de setembro de 2010

vírgulas novas.

Palavras feitas somem, estou cheia de muitos sentimentos, euforias, alegrias e pensamentos sem formas. Sorriso nos lábios que não querem parar, cansaço das memórias que me deixavam sem dormir, fico com a mente presa em novos pontos. Sigo paralisada e imaginando o que poderia ter sido melhor naquela noite, não sei. Teimo nesse fogo, nesse jogo cheio de riscos, nesse silêncio que me diz tanto, que só cala quando me vejo num abraço seu, onde acho que tudo pode ficar nas minhas mãos, em uma calma.

Ana Morais

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

suspiros.

Vou sacudir essa poeira, resolvi limpar todos os lugares que ocupo, por pensar em mim, por querer ver um novo canto cheio de novas cores fortes. Sinto cheiro de chuva, sinto frio, sinto o último suspiro dessa velha roupa, me permito também sentir o último beijo, nem que seja num relance, me perdendo... Voltando. Retiro as tuas mãos dos meus caminhos, não quero elas tentando confundir essa razão, lágrimas são teimosas, o remorso te procura junto com o meu corpo, e essa mistura não tem bom resultado. Minha mente te rejeita, porque não dar mais pra suportar.

Ana Morais

desamor:

Com a sua presença ficamos feios, desacreditados, cheios de dúvidas quanto a felicidade, sofremos pelo deitar solitário e pelo acordar de uma noite cortando cebolas, com um medo constante, um sentimento de fraqueza e com a morte da crença em nós mesmos.
Chegamos em casa, depois de um dia farto, sem ter quem abraçar, sem ter com quem conversar dos problemas econômicos do país ou até mesmo do desenho que passa na TV. Entramos pela porta dos fundos, com apenas o silêncio de um cantinho sem sabor, onde não moram licenças, não existem tapetes para não sujar o chão limpo, nem músicas que nos arranque saudações positivas naquela hora.
Sofremos com o abismo que é parar de sonhar com isso, receamos não entender esse lado vertical, mas continuamos nossa caminhada importuna.
“Desistir” de tudo que imaginamos quase todos os dias é uma das piores dores. Mas do que vale apenas um remando?
O que não se permite dançar divina dádiva não aprenderá os passos nem tão cedo.
Não falei de cirandas, e sim de dança a dois, repito: a dois.


Ana Morais

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

sinais.


Acreditei em fórmulas, em conselhos, segui os passos de todas as receitas e nesta lista não faltou rituais meticulosos: Cuidei do meu jardim, tentei escrever a metade dos meus sentimentos que explodem aqui, que me deixam vulnerável, exposta, nua.
Cuidei do meu tempo.
Cuidei da minha memória, tentei retira-lo do quarto, do lugar.
Cuidei para que minha esperança não abandonasse o barco furado. Cuidei para que um novo presente me deixasse com um olhar mais feliz.
Cuidei dos focos futuros em todos os ângulos, procurando apenas acumular bons horizontes. Ver novas fontes. Enfim, mergulhei de uma forma mais profunda que pude. Entristeci. A intensidade sempre me moveu e morreu aqui. Preciso viver dentro, não fora.
Abusei da minha razão cansando-a de ser dona de todo o meu ser. Hoje em uma forma desesperada, fico abrindo caminhos pro meu coração sentir e ele se machuca como uma criança que cai. Fiz pedidos as estrelas. Tentei ser dois, mesmo tão sozinha no meu lugar. Chorei nesse cantinho que ensinou-me a pressentir, a ver que não têm jeito que dê jeito nisso.
Acolho meu luto sem cor. Crio ilusões. Invento sorrisos falsos. Finjo não ver esse vazio perturbador, que ao invés de pegar a mala e sumir no mundo, persiste.
Avisos do não “eterno” foi dado, basta começar a acreditar, que é o mais difícil. Quero ligar os sinais e chegar ao ponto final. Quero morrer de amor, mas não sei usar essa imensidão pra controlar meus afetos. Dúvidas não, só aceito overdoses de céu azul, dias livres, encantos de uma estrada plana, convicções. Ventre cheio de sonhos novos e caminhos desejados.

Ana Morais