quinta-feira, 28 de abril de 2011

retirando o pó;


Estou fora de área, desligada, dando férias aos pensamentos, descansando as palavras que não estão prontas. Na realidade, tentando não me inflamar mais com tanta redundância. Apostando todas as chances, nessa reforma, nessa nova pintura, nessa arrumação, que por descuido deixei revirar, virar cinza, empoeirar...


Ana Morais

quarta-feira, 27 de abril de 2011

estrondo;




A chuva faz festa lá fora e os trovões assaltam todo o meu frágil silêncio.
Deitada aqui, chego a planejar dias mais livres de todo esse estrondo sem proteção.



Ana Morais

quarta-feira, 20 de abril de 2011

coragem;


Despertei meio que no escuro, para um café amargo que não descia, arquitetando planos contra o coração, duvidando do futuro, negando a solidão, cegando o que devoro, omitindo o que sofri, vendo alguns fantasmas e com uma sensação ruim de ser sempre só... É, revelo uns segredos e me jogo nos braços da indiferença. Mais forte, eu peço: Coragem não trema, purifica as vielas por onde passo, os cacos de vidro estão por toda parte e ainda ando com os pés descalços, nus de proteção. Coragem não trema, jogue no lixo a dor que vive em cima de outra dor. Coragem não trema, se possível, mate a cólera que teima em permanecer. Coragem não trema, não quero nada me pegando pela veia, sobretudo invadindo o meu santuário... Coragem não trema.

Ana Morais

terça-feira, 19 de abril de 2011

chove mais;




Reviravolta, vida revira
escondo os retalhos do coração.
a paz virá
me conduzindo com 
suas mãos delicadas.
trilho, em passos largos
num mundo que não 
sei o nome do dono,
e com um olhar de 
fera assustada...
só quero 
o brilho dos dias 
mais completos,
o corpo já suporta tanta física,
e  sem o amor 
tudo vira deserto
fracasso carimbado, 
poemas reeditados.
com ele, formas de estrela
rastros de cometa,  lua cintilante
luz de velas, enfeites,
surpresas aos ouvidos
como uma Bossa nova e tal. 
que assim seja, pelo menos...
Pisco o olho e observo
uma pontinha
desesperada da esperança,
brotando
entre o verde da grama.
Cochila não chuva, cochila não 
chove, chove, chove mais
danço pra você, te chamo, 
te desenho nas minhas letras
te provoco tempestade.
mas chove, ela precisa crescer, 
crescer até criar raiz
tom, semente.
a água vai lavar e vigorar 
o que seco estar

Ana Morais

uma parte ficará;


Não reduzindo a marcha ou usando a ré... Só pisando fundo, evitando olhar pelo retrovisor e acelerando,  como numa fuga desatinada. Vou, na certeza que não quero voltar mais e levando a incerteza de como seria se durasse outro amanhecer. Sigo, apesar das ausências de mapas, excessos de bagagens pesadas. Avanço, não parando pra descanso, só em direção das estradas do meu acolhedor lar. Antes que eu perca mais, resumo e repito: Sei que uma parte minha ficará, não voltará. Mas abandono o cheiro, o tato, o pensar vazio, o querer perdido... E troco por promessas que estão na sala de espera há alguns anos. Troco por compromissos com hora marcada. Troco por uma cama desarrumada. Troco por palavras pensadas, antes de ditas. Troco por silêncios ao invés de asneiras. Troco por colheitas. Troco por um dia que me aguarda. Troco por ações. Troco por passos, pessoas com sorrisos alargados, sede de viver, pelo o agora e uma por  uma próxima história, com diversos roteiros. Eu troco. Tudo há de ser renovado, há de ser... E essa  velocidade me interessa muito.

Ana Morais     

segunda-feira, 18 de abril de 2011

não irão examinar;


O coração dispara toda vez que lhe busco nas memórias. Por me afastar, é o que encontro em entrelinhas, brechas e fios obsoletos pra te penetrar. Na minha imaginação sobraram fragmentos de descobertas dos olhares certos, que não foram. Ficou até os dias desocupados de toque que te arrastaram para longe, me provocando medo. Me dói, saber que podes ser de outro alguém, fere descobrir que os dedos que não são os meus  irão examinar o teu corpo inteiro, provar o teu sabor,  preencher o teu pensar. Sinto que fazes falta por não ter sido, por ter ido, se perdido... Perdão, por não ser o que sonhas. Perdão. Tanto ficou aqui, tanto, que escorre pelas  lágrimas, foge do domínio. Agora, restaram os paraísos meus, “fases nuas” , noites de luar, que jamais serão de novo.



(Segunda-feira fria e triste)



Ana Morais

domingo, 17 de abril de 2011

se tapa ferida;


Compreenda
que não se tapa ferida
com outra paixão que só se vê pela varanda,
é preciso abrir a porta da frente, recuperada.
Quem sabe...
Em um amanhecer cheio de cor
em um pôr-do-sol
em bosques escondidos
em milagres do amor
em um novo respirar
em um nunca mais, sei lá.
Em um dia
onde enfim, resolvemos remendar
abster-se da cicatriz
varrer desencontros
Mudar a cara
mudar a bagagem
mudar a posição da cama
mudar as cortinas 
mudar o nosso mundo.
Aos poucos,
o coração vai voltando a ser mais inteiro, verdadeiro.



Ana Morais

que envelhecem;


Paro os ponteiros do relógio,
agora, o sossego 
da madrugada me guia.
sei que posso fazer uma oração
sem intervenção do "tic tac"
Logo em seguida, vou arrumar 
os pensamentos gastos
numa gaveta mais larga do armário
tentando disfarçar
a pressa da
tua vinda no inverno
bobagem é
achar que passou
que o tempo virou tudo pelo avesso
Inevitável são
as feições do rosto que envelhecem
sem ao menos me dá a chance
de juntar as
tuas coisas com as minhas
os meus desejos se voltam para o teu regresso
ao lar.
O passado revive
a vida VIVE
a lembrança persegue, prossegue
mas o marchar sempre atropela qualquer abstinência
que possa subsistir

Ana Morais

sábado, 16 de abril de 2011

livrar-se desse Outono;

Acordei sentindo os teus lábios quentes, eles não param nunca de me tocar, mesmo que estejas longe. Puxei o ar do pulmão, amenizando o que anda perdido entre os redemoinhos da paixão. Deparei-me com os muros dos instintos carnais, repisando as possibilidades de uma união de corpos. Cercada de cautela e pressa. Presa as partidas, as malas prontas, as portas abertas, as demoras, as fotografias, ao pouco tempo, ao arrependimentos do que não cheguei a dizer. Livrar-se do cheiro, livrar-se desse Outono, me despir dos desejos provocantes, se tornou curvas infinitas e sem freios. Preciso tanto te ver, te fazer contente, observar os teus olhos ao me olhar. Fico bem, em querer o seu sorriso, nem que seja distante do meu.


Ana Morais

sexta-feira, 15 de abril de 2011

nas avenidas


Você:
mora nas avenidas da minha nuca,
por onde me perco
entre dedos, olhar faminto,
boca, barba mal feita...
Passa a língua, rala os cantos secretos
que só tu tens acesso
avança os sinais, leitos
do meu corpo,
segue na direção dos caminhos das coxas
e descansa nos rios 
que chegam a percorrer os meus seios.
Como uma espécie de cartão postal
te carrego nos traços raros.
Não sei ao certo 
as cruzadas que ando
pra te reencontrar agora,
mas está tão ligado, 
que vou e volto atrás, 
oscilando permanentemente.
Nota a solidão,
nota essa fogueira que não apaga, 
nota que existe uma estrada,
nota o sim, nota a doação.
Só quero a sua coragem em notar
o meu dom de adormecer no teu chão.

Ana Morais

quinta-feira, 14 de abril de 2011

fartos de sede;


É sacanagem ter por uma noite e depois,
Não poder tocar mais,
Não sentir o cheiro do cabelo deixado sobre o pijama,
não reparar o ar a cada soltar do suspirar,
nem vê a beleza do último encontro
não abraçar até os braços se cruzarem no meio das costas,
daqueles que são envolventes como um cobertor no frio,
não se achar na entrega de um beijo cheio de saliva,  
ou não perder-se entre as pernas, em um dia preguiçoso
não saber a temperatura da pele
não escutar as vibrações da voz,
Não admirar pequenos gestos que falam 
sobre pensamentos fartos de sede,
me inflamo censurando os pêlos arrepiados e recordo... 
É, essas coisas demoram para serem notadas.
Em meio as decisões,
esperanças quase "nulas",
palavras nuas,
não sei o que dizer
Para te trazer de vez pra mim.
Tantas horas, espero em um silêncio sem fim,
o teu sim.

Ana Morais

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ainda me inspira;

Desisti de salvar os minutos
onde não te desenho nas páginas.
Tentei por um triz não pensar mais.
mas como te deixar pra depois?
O coração nem sabe esperar e nunca aprende...
Penso nas lembranças que tiram o fôlego,
vou escapando, derrubando o que devasta,
querendo ser mais minha e menos sua.
Falo sério com Deus e re-pe-ti-da-men-te pergunto:
O que fez ele encostar aqui e ficar?
E em seguida faço uma prece.
- Se for algum erro querê-lo a cada 
prevalecer, amanhecer, anoitecer, 
sem ao menos vê-lo,
me salva desses encontros que projeto
em milhares de lugares.
me leva pra longe dos retrocessos grifados
de cenas que nunca pedem licença ao entrar.
Aqui remexe uma vontade de escrever,
de dizer tanto e também...
Que o Janeiro ainda me inspira,
as palavras falham e o som da tua voz 
fala tudo que quero escutar,
me atrevo a repousar sossegada.
que seja assim, por mais essa noite.


Ana Morais

terça-feira, 12 de abril de 2011

acinzentado;


E a busca de qualquer desvio
de trajetória parece ser sagrada.
fecho os olhos,
recebo tuas impressőes, o roçar  impetuoso,
o rosto, o gosto, a mão na cintura.
Chamo o teu nome, faço soma,
junção, me reconheço nessa paixão.
Não me contento com o fitar
de nenhum olhar desconhecido.
Estamos tão distantes,
e só agora percebi que demorei.
Tive que me arrebentar, me arranhar feio,
pra querer ser,
ser mais ao seu lado.
embalado, abraçado, apertado,
nesse dia acinzentado,
nada alagado, só agasalhado.


Ana Morais

ao deitar;



É fácil falar sobre esperas que não são suas.
É fácil atravessar as ruas quando se tem paradeiro do outro lado.
É fácil ignorar cartas, e-mails, caixas de correio, telefone,
agendas e mensagens enquanto nada se aguarda.
É fácil quando não existem sobras das paredes.
É fácil não se preocupar com a memória da pele, com o casaco, o quarto, o avesso ao deitar.
É fácil quando não se existe tensão, fardo, acúmulo, corpo ardendo em ausências.
É fácil porque não são nos seus lábios que estão desenhados os beijos que perfumam o céu da boca.
É fácil julgar versos que não são sentidos.


Ana Morais

sumiço;


Saiba que qualquer demora não furta
a importância do que foi.
O hoje, o amanhã fica cansativo
sem o meu fantasiar.
Só tenho respostas que saturaram, 
viraram gritos de socorro e penar.
Quero que saiba que tua passagem pela minha casa,
valerá o meu sumiço.
Te aceitar faz parte dessa história, 
vê-lo de novo um dia será outra brincadeira do destino.


Ana Morais

Corro;


Dose de veneno é dizer que, não queria que fosse nada. Quando na verdade sempre desejei tudo. Dose de veneno é ter que fugir,  fingir, esconder, enganar, sofrer. 
Dose de veneno é ter que mentir de um jeito descompassado, alterando todas as feições de afeto sereno, por apenas imprecisões do machucado, o coração pede e o sangue ferve correndo nas veias. Dose de veneno é a distância, que veio me roubando, me tatuando, me embrenhando ao inferno da dúvida, tocando lugares nunca visitados antes. Bem que poderia ter sido só um rosto, uma rua, não ter me afetado tanto, ter passado despercebido... 
Mas foi diferente, ficou nas páginas dos meus livros, nos meus gestos, na minha estante, no meu cobertor, nas horas, nos espaços, nas vísceras, aqui. Parece que tudo me faz correr pro sossego do teu abraço manso, é lá que acho proteção e desato o nó de nós dois. Disparo ao encontro de pensamentos, invadindo os corredores, buscando com os olhos atentos. É, eu tenho medo dessas doses de veneno e também de não saber amar mais, como amei um dia, você.


Ana Morais

segunda-feira, 11 de abril de 2011

meses;


A razão tem uma mania feia de censurar lados áridos, alagados muitas vezes por tempestades que não passam... Vejo nuvens pesadas no céu cinza e me transbordo de alegria contra mão. Danço, tomo banho de chuva e me deito na relva. Me distraio com as gotas que percorrem no meu rosto, acompanhando as lágrimas da falta de coisas, minutos e tempos valiosos que guardo no bolso. Só eu sei o que espero por alguns meses. Cada um sabe onde dói mais.   

Ana Morais

minhas e suas;


Afinal, como percorrer na linha da vida de alguém, sem habitar nos sentimentos mais urgentes?  Daqueles que são levados pelo arrastar de cada beirada, no guardar dos pedaços cheios de raízes... Estou falando no sentido de dividir o lado domado que nos encontra vez em quando, dos sinais, da fome de comprar todas as brigas,
assumir todos os medos e riscos que nos convida para o abismo imediato de apenas um olhar emergente, do pensar, do sentir. Parece que eu não sei mais o que fazer com algumas partes minhas e suas que sobram pelos arredores.

Ana Morais

domingo, 10 de abril de 2011

água com sal;


Me olho no espelho, até os pensamentos se transformarem em palavras, então solto:
- sei que erro feio, te maltrato, te arranco a carne,  bebo o teu sangue, por não saber muito sobre  o que vivo, te arrebento. Deixo  sobras  do nada, pra você juntar, todos os pedaços, que são meus também. Peço calma as tuas horas, mesmo faltando tempo pra te ver melhor, pra te dar conselhos, sejam eles, bons ou ruins. Exijo, fico regrando, cobrando, descontando no teu reflexo o que no fundo, é passado, o que eu passei, mas não sei conviver. Há por dentro, algo borbulhando, por mais que eu desvie dos nomes, o antigo parece que fica na espera, para acertar as contas lá na frente. É, sei que vivo no presente, porém, não aceito o que muito sinto e não explico. Nada sabe ser leve, só avassalador, água com sal, insistente a todo instante, me fazendo virar principiante constante, entre trancos, quedas, me machuco e te machuco. Mas cuidarei de ti,  cuidarei de mim,  prometo.



Ana Morais

quinta-feira, 7 de abril de 2011



Quanto menos te vejo


Pequena, grande desconhecida
Eu entrarei desalmado em tua vida
Deixaremos marcas e feridas
E jamais lembraremos de esquecer
Então minh’alma há de florescer
Quem irá de fato enaltecer
Pensamentos e detalhes do teu dia

Tenho até bons pressentimentos
Coisas que penso e mal acredito
Frases que digo e não alimento
Partes traçadas de meu sentimento
Configurando então de avanço tal
Pra quem outrora sentiu-se tão mal
Com o gosto amargo do momento

Tu és anjo da lua embalsamada
Uma loba da noite estrelada
Uma donzela longe de meu coração
Que noite! Que estrela! Que calor!
Como é doce essa ardente ilusão
És bela desde a concepção
E entre os frescores do vento
Da noite um leve relento
Quero viver um momento
E morrer contigo de amor

Vou me emaranhar por entre os teus cabelos
Te abraçar, afastar teus pesadelos
Olhar a lua, o mar, o sol
E quanto mais ficar contigo
Mais sei que corro perigo
De nunca ficar melhor



Rafael de Vasconcelos Silva
Dedicado à Ana Morais
Em 07 de Abril de 2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

estardalhaço.


Secretamente sinto a vertigem nas horas mais erradas.  
O traço da falta matriz derruba todo o muro construído pela razão.
Me envergonho dessa melindrosa fantasia.
Além do cansaço, vem a vontade de alcançar o inalcançável.
Nessa cidade cinza não acho mais aquele olhar,
E nas ruas, busco “pedaços-cacos” que me fazem lembrar a tua maneira.
A febre arde nos lençóis encharcados.
Meu leito dói no peito.
Grito percebendo que de nada adianta.
Minha falta não te derruba da cama.
E a angústia vai mudando de ângulo, pegando o trem para a garganta apertada.
Suspiro e respiro, repetindo feito mantra:
Oh Deus, 
Só queria trilhar os caminhos e chegar até o enrolar de um abraço que me deixasse uma impressăo cravada.
Ou enfim, ao fim de todo o embaraço, laço, estardalhaço...  

Ana Morais

domingo, 3 de abril de 2011

Por aí.



O tarde ficou preso ao meu nome, entre as bobeiras emprestadas pelos meses, consigo abandonar o seu “jogo”.   
Vim desfazendo as desorientações, os deslizes, tentando seguir com esses pés desgastados e enfrentando as possibilidades de um contato mais confiante, sem trechos incertos. Aqui respira uma coragem comprida, porém um medo íntimo que me segura num caminho desconfiado, mas o que não deixa cansar, são essas doses certeiras que me assopram aos ouvidos: "os ponteiros irão lhe obedecer dessa vez".
Então, dissolvo as redes, pulo pra longe do distante, me livro das correntes, cadeados, fechaduras, ciclos que não trazem surpresas sorridentes. Quero ver outras luzes, escrever novos roteiros, sentir o vento percorrer os cantos do meu corpo e desejar a cada dia que as águas te arrastem para as ruas que não irei atravessar mais. Se perca de mim, me perco de você, nos perdemos pelos bosques dos dias infinitos. Livra-se de mim, me livro de você, nos livramos das mágoas... E assim seguirei, te deletando dos mapas, das listas, das noites, dos segredos, das nucas, dos arrepios, da memória e por fim do coração. Clamo calma para minha alma e vou por aí.

Ana Morais