domingo, 29 de maio de 2011

perde;


As letras chegam tentando
sintonizar as batidas do
coração
com o imenso espaço
do cordão desse infinito
que carrego aqui.
Sei que ainda seguro
um pouco do que enxergo
mas perco tudo
pelas esquinas 
por onde me liberto.
Minto durante as crises
e escrevo sem saber unir
os versos com essa
cabeça atrevida
que se perde, se perde...

(Ana Morais)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

sequidão;

Dou pausa na mudez
sabe lá, o que me incomoda
se é a tua falta flácida ou
a ausência de palavra mórbida

acomodada
num azulejo qualquer
do chão frígido
engano as rotas das
águas do ralo que esgota

navego calada
sem rumo nem açoite
só com o temor
do demônio que me afronta
a meia-noite

tolerar a língua seca
é ficar muda
observando o pote
ou morrer de sede
mirando um bote

procuro meu guia
feito cão sardento
ando na sequidão
sem alento
(em plena solidão)

(Ana Morais)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

outros goles;


                                          a pálpebra se conserva seca
                                                        porém
novas lágrimas congeladas
                                          ficam na cama
                                          estou me acostumando com
                                          o que some na escuridão
                                                        ás vezes parece tudo em vão
                                                        mas preciso de outros goles
                                                        de razão...
                                                        ou até mesmo de outra estação 

                                                                                        (Ana Morais)


ladainha;


Agora a ladainha se repete
Com a mesma faixa
Poesia baixa, sem cor
Para então, surgir um
outro som ou melodia
com diferentes notas...
andando e tentando o novo.

(Ana Morais)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

(...)


                                         Folha em branco sobre a mesa
                                         grafite querendo rabiscar
                                         uma vontade livre de ir
                                         sem me preocupar em assegurar
                                         só numa urgência de andar
                                         a procura de um lugar
                                                       ou até mesmo outro luar
                                                       nada que traga roteiros a secar
                                                       endereços carimbados a nadar
                                                       apenas a minha própria morada
                                                       onde eu possa desdobrar a rede
                                                       me embalar, balançar, sonhar
                                                       na varanda tomada da brisa do mar 
                                                       sem ter que falar, nem me enrolar
                                                       e de bobeira ficar
                                                       feito nômade me conservar
                                                       ouvindo o silêncio tomar do ar
                                                       os verbos do tempo que irão aflorar

                                                                      (Ana Morais)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

desesperadamente;

Chega logo e mistura teus lábios
molhados com o meu suor
leia-me, nem que seja
com o tato, em braille
desafia sem disfarce o ritmo
que vibra ao te sentir
Faz esse corpo pintar
as tuas palmas pelas curvaturas dele
Ah, eu vou além, pertencendo
desconhecendo as taras
tremendo, rasgando com os dentes
atacando em silêncio ou em gemido
vendo os rostos possuídos
de outras caras e bocas.
roçando a prosa e o prazer
que desembrulha  
desesperadamente, 
ardendo em paixão, 
como num elo.
Vem e continua
não para dessa vez, 
não para, não para...
  
(Ana Morais) 

embarcar...



No fundo é engano acreditar
cabe a você se colocar no meu lugar
E embarcar no tanto de ti que me ilude
feito miragem no deserto
resistindo um dia após o outro
alimentando-se do incerto
devorando-me toda vez que sente fome
sem ao menos saber as travessias do que some
Sei que, me faço de qualquer conserto
numa velocidade que muda o pensamento
e troco a saudade por um pouco de razão
mesmo  predominando a imprevisão
Sei também que, o mais difícil
é livrar-se das garras dessa solidão
faço-me de presa do que me rega
mas depois me nega
acordei  meio fera
  e não irei dormir tão cedo
primavera

(Ana Morais)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Virá;



Virá, em busca do fim da saudade, bem aqui, do outro lado da cidade, entre as curvas da serra. Virá, num vôo alvoroçado, preocupado em furar as nuvens da distância e alcançar seu chão, sua raiz. Virá, e será  o dia da chegada para alguns, mas para mim, partida e uma outra ida. Virá, com um corpo moído de cansaço, na espera de braços cheios de sossego. Virá, mas não pro meu abraço cheio de desejo. Virá, e não serei eu, que irei recebê-lo. Virá, só falta esse resto de Maio, e uma eternidade. Virá, e não trará o que levou na bagagem. Virá, e trará mais ausência. Virá, o que  tenho medo de encarar. Virá, o que não esqueço. Virá, e ponto final, com uma ponta de esperança, é claro.

Ana Morais

domingo, 15 de maio de 2011

“branco-amarelo”,

gotas de chuva, pele nua, cama vazia de ti  
acordei pesada não sei de qual cansaço,
ando pelo quarto frio e me aqueço com o pensar,
cabe imaginar detalhadamente o teu simples ato
de pousar tua cabeça no meu peito
ando por tantas ruas em descompasso
buscando escadas pra alcançar as alturas,
uma fase da lua, me distrair com o brilho
“branco-amarelo” intenso, quem sabe
ou talvez arranhar o céu com as unhas afiadas
ando dobrando as esquinas, sem me topar
com aqueles encontros “desesperados” de cobiça
ando somando desejos que almejo
dançando nessa solidão ausente de face e laço.
ando falando sobre línguas que desconheço,
segredos, medos, verbos, águas que correm,
loucuras, existência sem nome e apresentação.
ando largada dentro da roupa da poesia
infinita, perdida nesse corpo, no olhar
da pupila dilatada, que esconde
a cor verde e mal repara a esperança 
por trás dos raios "efeito camaleão"
entre as cortinas da janela aberta
a palavra já quer escapar, virar vento
antes que eu consiga terminar, 
elaborar, tocar. Lá se vai ela, flutuando feito pluma
então, volto a ANDAR, andar, andar...



Ana Morais

sábado, 14 de maio de 2011

sem;

Se não é pra ser
por que esse tal destino
brinca tanto assim?
a vida parece nem se quer
ter pena de mim
ou procura mesmo
esse evitado estopim
E por não saber traduzir
bem o meu latim
vou perdida pelas
andanças no jardim
lembrando daquele
querubim
olhando pro capim
e pensando sobre o
triste fim, desse jasmim
sem o seu serafim

(Ana Morais)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vens;

Quando vens, a poesia brota
Quantas lembranças tenho
dos encontros naquelas portas
em noites de luar
sem ao menos apartar
o furtar daquele olhar.
Quando vens e me abraça
a hora não se acalma e passa.
Hoje levantei sem revelar
o que quer que eu ache graça
Pensando em despertar
o silêncio da desgraça.
Quando vens
a alegria é traçada,
Quando não vens
os pedaços da saudade
chega acumular
no enrolar do despertar.
Sinto esperar
a cada acordar
querendo navegar
no teu deitar
cheirar
beijar
sonhar
mirar
reconheço minha pressa em 
amar
amar-te.

(Ana Morais)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

me bastaria;

nunca acreditei no “para sempre”, até sinto estranheza ao enxergar o contramão do eterno, que se torna tão imenso aqui dentro. Nada de pouco eu quero, mas também, não peço castelos, reinos ou até mesmo, “The End Perfect”, o teu amor, as entregas, o mundo e uma vida longa, já me bastaria.

Ana Morais



     

"Diga que você me quer, porque eu te quero também"
                                 (Nando Reis)


recente;

anda bem complicado por aqui, admito.
correr pra onde não se pretende ir,
é morrer um pouco, perder os desejos
a cada tentativa errada.
me preservo, concluo minhas confusões
e vou mudando de querer... 
mas por mais que eu molhe os lábios
em outras bocas, não encontro aquele gosto.
por mais que, os rostos diferentes passem pelo meu,
não sinto aquela barba roçar no queixo.
por mais que, os olhos enxerguem
em mim um encanto, não me deixo guiar por
esses "novos" caminhos, que acho
insuficientemente reluzente.
o velho é sempre recente, presente.
E eu termino me perguntando: Será que terá um fim?



(Ana Morais)

sábado, 7 de maio de 2011

Re-experimento;



O sol desabou sobre a cama desarrumada, respiro fundo e provo a beleza do vigor que enche a minha retina.  Passarinhos a cantar, e eu a re-experimentar, acordar, ressurgir, desfalecer num riso enlouquecido de desatino. Brindo ao dia que vem depressa, me entrego a grandeza desse mar que sustenta o meu penar. Entre girassóis , caminho, com o corpo ardendo e uma rotina que muda,  toca, trocar de cor, se transforma. Os raios voltaram aparecer e a felicidade tenta reinar. O tom delicado da chuva,  me ajudou mesmo a lavar, a germinar a terra, a banhar os poros, a levar aqueles arrepios pra longe, deixando até um ar mais seguro aqui. Por vezes, feitiço parece, quando me vejo com um gosto corrosivo na boca, trazendo a brisa dos lábios proibidos. Ainda teu sabor padece no meu entardecer, ainda moro nos teus olhos, ainda seguro o meu coração e a tua mão. Não por muito tempo, eu sei. Porém não minto, nem omito.

Ana Morais