sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dias...


Passei dias rasgando verbo
Fugindo de letras e papéis
Passei dias suaves
sem lembrar
de promessas não cumpridas
ou  expectativas exageradas
Passei dias aprendendo
com uma alegria que não me inspirava
mas me embrulhava em um cobertor macio
Passei dias sem dor no peito
e respirar pesado
Passei dias longe do que me deixa exausta
passei dias distante de múltiplos sentimentos
Fiz dos dias a morada do acaso
e descobri que quando não escrevo
o destino age com mais tranquilidade
(sem marca-passos)
Passei dias ouvindo a canção da rotina
apagando fios de memória
Passei dias em paz comigo
sem dito, apenas feito
Passei dias repousando nos lençóis
do meu eu.
É, passei alguns dias assim e sinto falta...

(Ana Morais)
  

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Escrevendo;


Escritora por sentir a vida na pele e escrevendo na tentativa de ser leve.
Escritora por gostar de borboletas no estômago e escrevendo para não pesar mais sobre o caos que mora aqui.
Escritora por querer desafios entre os dedos 
e escrevendo numa vontade de equilibrar lágrimas que muitas vezes escorrem em direção ao chão.  
Escritora por parir vírgulas, pontos, paginas que brotam aqui dentro e 
escrevendo outras histórias através dos meus olhares.
Escritora por arte e escrevendo o que por vezes me liberta
Escritora para aliviar a alma e escrevendo sem saber onde me encontro.
Escritora de versos com nomes, datas e escrevendo para um dia revelar uma saída.
Escritora por assim ser, apenas uma escritora.

(Ana Morais)


Dia do Escritor, 25 de Julho de 2011.

domingo, 17 de julho de 2011

oco;


Oblíqua é essa
alma
pendente a
cicatrizes

que se ramificam
a uma dor antiga
a ações
articulações
ardidas,
e ela dói
dói
mais em um dia frio
debaixo de um guarda-chuva
onde o rasgo da mente
mente e
engana a gente
faz conta com o tempo
e tudo diminui
subtrai  
em cada enrolar das calçadas...
E embaixo do céu
coberto
de turvas nuvens
que persistem
em serem cinzas
tudo em mim
parece
oco.


(Ana Morais)


Cansei de ser verso,
De ser pelo avesso
De plantar e cultivar
O que ele
nem merece...

Ana Morais

domingo, 10 de julho de 2011


À toa, desenhei uma praia
nela espero o anoitecer
e me aqueço com o colo
que me cala
E nessa imensidão
resta
velar algumas palavras
que são só pro meu bem querer.

(Ana Morais)

regaço;

Fonte: Google.
O mar se mudou pra cá
água e sal
se misturam nesse
rosto rasgado
e de regaço
escondo a inquietação
numa serenidade que inventa
sorrisos finitos...

Ana Morais

não eram...


Ele; chega com uma prosa áspera
Ela; recua ao que não agrada
Ele; fuma um cigarro nervoso
Ela: se tranca nas mágoas velhas
Ele: vai embora
Ela; fica presa aos gritos  
Ele: no dia seguinte volta pro jogo cínico
Ela; não aceita a próxima rodada
Ele; percebe o que se desenhou durante a cada vírgula
Ela; não consegue sorrir pro perdão
Ele; se torna lágrima
Ela: vítima da frieza profunda
Ele: mais uma vez sozinho
Ela: alagada num poço dele
Ele: some
Ela: seca
Ele: peito vazio
Ela: tanto faz
Eles: não eram... nem foram.

Ana Morais

terça-feira, 5 de julho de 2011

cirandas;




                                                  
                                                  Em silêncio
                                                   sigo outra vez
                                                  no meio das cirandas
 da vida
 do tempo
do medo
dos ciclos
que continuam vazios
Entre as ondas
e o vai-e-vem...
Feito criança travessa
corro e caiu,
me machucando
                                                    indo em frente
com a ferida aberta
                                               sabendo que irá cicatrizar
                                    (...) 
                                  Mas que novamente
                                                voltará a machucar
                                                   a sarar
a ferir
(...)
                                                   ando em círculos
demasiadamente
cansativos

                                                  (Ana Morais)

avermelhado;



o céu calmo
a tarde soprando o vento
o meio-fio tão cinzento
e o sol avermelhado
morrendo nas sombras
do fim de um dia,
 junto com o que eu penso
tudo se vai, se vai...

(Ana Morais)

um minuto;


Quero ficar sozinha
com as feras da solidão
fazer de mim o imenso
desejo do silêncio
Nada denso na mão
Só as horas que correm
O aperto na garganta
Um vôo preso
e um pássaro sem canto
Por um minuto
preciso manter distância
de tudo que for "perfeito",
muito feliz ou hipócrita demais...

(Ana Morais)

Não parem...


Não parem para me ouvir
Não parem para me ler
Não parem para perder tempo
Não parem para prestar atenção
no que eu digo...
São sempre frutos do que não
quero repassar para ninguém.
São sempre furtos
dos estreitos muros
que tive que ultra(passar)...

Ana Morais

despejados;


Até saudade
dos sentimentos
despejados
por um tempo
senti
Insisti no que
me revirou pelo avesso
E diante dos olhos
enxerguei
os longos anos que
não voltarão mais
corta saber que 
nunca foi terno.

(Ana Morais)

tecer;


tecer o miúdo esforço
me fez encher o quarto
do que hoje dói
lembrar o motivo
virou uma farpa cortante...

(Ana Morais)

tempo;


Num anoitecer
o tempo
veio me visitar
mostrei minha face
envelhecida e sem rumo
Logo, escrevi uma frase
ou qualquer coisa que me
viesse em mente
para me libertar,
ficar livre da sensação
de não saber mais me justificar
(para ele)

(Ana Morais) 

sábado, 2 de julho de 2011

à deriva;


Se me tocar
Imagem: weheartit
sinto calor em
pleno inverno
Me faça de loba a noite inteira,
engravida-me de letras novas.
E no seu uivo
sopra o hálito quente
ou outro verso gosto de sáliva.
O segredo da chuva fina
é a reflexão feita
numa cama desarrumada
banhada de dois corpos
esparramados
à deriva do pensamento...
(Ah, a memória da derme
atravessa a linha do provocante)

(Ana Morais)