terça-feira, 28 de junho de 2011

na varanda,


me conservo tão longe,
Imagem: Fernando Manuel Gomes
furto um pôr-do-sol
e escuto o vento em suas rotas
falar com algumas folhas.
a prosa é livre como a brisa do mar,
voa verbo
enquanto eu respirar
pode continuar,
só assim desejo te tocar,
correr atrás é sonhar,
não sei bater asa ainda
mas a poesia me faz pairar...

(Ana Morais)

prenha;


a sina vive prenha de
segredos íntimos
a tempestade vestida
em uma renda preta
que enche as mãos
de cobiça
a pele mora na pressa
o flagelo escorre na fina
presença do ontem
e a promessa alinhada ao
ritmo do que vira areia
em um deserto.

(Ana Morais)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

perdido;


Imagem: weheartit

Perdido é brigar com o que
não tem bússola
Desafiar a razão
brincar com o perdão
ofuscar a cabeça
e ser levada pelo coração
Perdido é o nosso jogo,
essa trajetória
de mais um engano do destino
Perdido é me perder
e ainda assim te querer.

(Ana Morais)

feitiço;


Num momento cheio de aconchego, aconteço.
em alguns dias de silêncio, faço milagre.
pode ser no gosto da pele, no passar da língua
ou nas distrações do sabor da poesia,
que insiste em virar palavra
Num lugar que era nosso,
calo, experimento, ouço, toco e atiço
com todos os sentidos e até o sexto,
se for preciso.
Só pra não deixar morrer
o meu feitiço.

(Ana Morais)

calar e olhar;


Imagem: wordpress
Ontem apressei
os passos
com uma aflição
que não sabia disfarçar
no sentido de alcançar
um enxergar teu
verdade direi ao assumir
que minto
quando nego o prazer
que sinto ao acreditar
no que ninguém tolera
Ontem em brinde a
uma falta de calma
saí, amargurada
com um pensamento
de silenciar ao te encontrar
defronte ou não
Ontem, as palavras
não tinham importância
nem foram escolhidas
afinal, fiquei longe
com o meu paladar
pedindo o gosto de
um aproximar
Ontem, sentei e deixei
os olhos fixados ali
naquela porta
sabendo que existiria
o momento distraído
que eu iria calar e só olhar

(Ana Morais)

domingo, 26 de junho de 2011

repartiu;


Na tarde em que ele partiu
o amor repartiu as suas asas
em vários pedaços
Sei que foi embora
e nada mais
Mas tanto faz
até já fez
e refez a sua escolha
Levou outra parte de mim
deixando só o que
não consigo descrever
(seguiu, como eu deveria seguir)
Hoje, misturo o dia morto
com o tempo acelerado
que é veloz, tão veloz quanto
o que não nos resta mais.

(Ana Morais)

domingo, 19 de junho de 2011

(dita, dita, dita...)


O que me fere;
muitas vezes não fere ninguém
O que eu vigio;
quase não se enxerga
O que me arranha;
são as garras afiadas
do olhar perdido
de um desamor
O que me atreve;
é essa alma revirada
os segredos escondidos
e alguns sonhos contidos
O que me incomoda;
são os versos dispersos
a rotina esvaziada
e o amontoado de desejos
O que me deixa desnorteada;
é a sensação de ser
incompleta,
de reparar os descaminhos
que levam a desistência
e não saber frear os passos.
O que me corta;
feito navalha, é a semana
que se passa ausente de cor
O que escrevo; 
são as rugas da face despida
as fugas dos pensamentos
e a dor que silencia
que é parecida, repetida e dita.
(dita, dita, dita...)

(Ana Morais)

sábado, 18 de junho de 2011

meu chão;


O meu melhor amigo,
me ensina sobre
as lágrimas das partidas
enquanto segura a minha mão
do jeito que só ele sabe
O meu melhor amigo,
me conta sua vida
Imagem: Gatuno Jr.
e alguns segredos
do seu coração
O meu melhor amigo,
enquanto minha avó
se alimenta de oração
deixa eu pousar a cabeça
no ombro dele
chegando a pensar
quantas travessuras fiz
e voltei pra esse ninho
que sempre me deu proteção
O meu melhor amigo,
carrega em seu peito
o dom de ter sintonia comigo
o reencontro de afinidades
que deixam rastros na alma
de vidas cheias de abrigo
O meu melhor amigo,
é o meu avô,
disso eu não vejo perigo
O meu melhor amigo,
é um homem digno
de traduzir qualquer lição
de um jeito tão paterno
e cheio de razão
me passou a imensidão
de ser e querer ainda mais
O meu melhor amigo,
me deixa gestos
uma missão,
a gratidão
e a certeza que aprendi,
com o doce e velho mestre
O meu melhor amigo,
é luz que vigora
em cada palavra que digo
Soube fazer do sacrifício
o motivo para os sorrisos
que não desmorona
O meu melhor amigo,
narrou o meu destino
e cabe eu cumpri-lo
com o mesmo júbilo
que ele um dia me fez sonhar
O meu melhor amigo,
É o meu pai, o meu chão
a minha raiz, os meus traços,
o meu avô.  
(zécão)

(Ana Morais)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

pegadas;


Na palidez do anoitecer
passo a caçar o ninho
e o triz da saudade
aumenta a lente do
ausente
fico disfarçando
ao sentir o teu cheiro
tão presente
então, desenho
nas singulares frases
as tuas formas
elas queimam
e eu sinto que
repetidas são essas letras
que entre os lençóis
e esconderijos
aparecem...
marcam, ardem e queimam... 

(Ana Morais)

domingo, 12 de junho de 2011

isso nunca mudou nada;




Poderia ser um sobressalto, mas é outro passo em falso. Poderia dar um tiro no escuro, só que meu coração não é à prova de bala. Poderia ser mais versos cantados, só que agora sou poucas vogais. Poderia, porém, as frações do tempo levam qualquer expectativa para caminhos diferentes. Então, me calo como se fosse a última cartada. É, até que "poderia", só que isso nunca mudou nada.

Ana Morais

segunda-feira, 6 de junho de 2011

fadigada;





O cansaço é um estado que cabe aqui, ando assim, fatigada de mim. Quero paz, enfim...

(Ana Morais)