Há uma urgência de mudar a estrada. Por não ter mais desvios que findam em sorrisos.
Qualquer instante agora na tua presença, iria salvar uma alegria inteira.
Mas só resta na estante uma saudade que eu não esqueço, que não cede.
Ana Morais




Os arrepios correspondiam toda aquela sensação, sobrevivia na pele, no desejo incontrolável, na idéia iludida de complemento. É difícil pra mim, ver a sua ausência me afogando na cama, no peito, na alma. Meu sangue pulsa fervendo, junto com uma vagareza que nem os corrompidos saberiam tamanha explicação. Meus braços sozinhos que querem abraços. Detalhes.

Os olhos não podem enxergar, as mãos estão à céus de distância e mesmo assim ainda consigo sentir como se estivesse perto, ao lado. Atravessando as separações, as impossibilidades do espaço, do tempo e mergulhando na esperança de que um dia o pulsar do coração aproxime. Agora não há toque, sorrisos, nem o mirar dos nossos olhos. Me resumo em ausências, me consumo em nostalgias.

Se vier comigo, deite ao meu lado, dentro de mim e não me venha gesticular ilusões, decepções que ficaram adormecidas. Pega na minha mão, faça um pacto enquanto vejo seu machucado ou enquanto eu elogio seus olhos, sua boca.
Ainda queria tê-lo por perto. Sentir meu ar ir embora diante dessa sua presença, sentir meu coração pular com seus beijos, abraços, com suas mãos percorrendo meu corpo. Eu queria precisar de você com essa sua loucura, com esse seu modo tão estranho de ver a vida, com esse jeito tão esquisito, que não consigo entender. Durante essa manhã acordei com uma vontade de chorar, parece que a cabeça não quer aceitar “essa ausência com sua presença”, ela não quer entender essa contradição, preciso afogar isso nas lágrimas durante esse tempo lento, de uma forma certeira, pra não mais voltar.
Ando na vida procurando novos ventos, felicidade, doses de paciência, tentando achar um ser nessa loucura humana que me “complete”, como aquele, aquele... Ás vezes penso que era ele, mas não, tenho que dizer a mim que não é. Foi só um engano bonito. Ele se fez tão singular, completo e assim permanecerá.
Dias nublados, dias que me reciclo, dias cinzas, dias que eu fico mais colorida. Hoje o meu amor vai hibernar. Ele não vem. Não vejo a face que mais quero ver. Se vai pra longe, noite fria longa, um sabor amargo.


